terça-feira, 6 de julho de 2010

Do que as marcas precisam?

As marcas precisam muito mais de emoção do que da razão para sobreviverem

Num mundo complexo, volátil, incerto e ambíguo, uma coisa é certa: existe muito mais lugar para a emoção do que para a razão. Neste contexto, o inglês Kevin Roberts, CEO Mundial da Saatchi & Saatchi, empresa de publicidade que possui escritórios em mais de 80 países, deu início a sua palestra durante a tarde desta quarta-feira, 9 de junho, no Seminário HSM. Roberts provocou a plateia diversas vezes a reflexões do que realmente importa para os consumidores e para as marcas. Segundo ele, nós não vivemos em um mundo para ter estratégia ou controle de processos, mas sim em um mundo voltado para o coração.
“Nós passamos da economia da atenção para a economia da participação. As pessoas já estão saturadas de informações. Temos que inspirar o cliente e não dar somente informação. Faça uma reflexão: olhe a embalagem do seu produto ou seu site. Tenho certeza que devem estar cheios de informações chatas. Sua tarefa como profissional de marketing é dar inspiração para seu cliente. O marketing hoje é de muitos para muitos, e há muito tempo deixou de ser movido pela mídia e passou a ser do consumidor”, afirma Roberts.
E se o marketing é movido pelo consumidor, para a marca avançar, ir para o ataque e vencer no mercado ela precisa partir de um sonho e não de uma estratégia ou visão. “ Se a sua empresa tem uma visão na parede, mate este quadro. Substitua-o por um sonho. Queremos trabalhar por um sonho e para uma parte maior que nós. Steve Jobs, por exemplo, sempre teve o sonho de tornar a vidas das pessoas mais bonitas, mais acessíveis. Os produtos foram meras conseqüências. O consumidor não sabia que queria um Ipod, apenas queria melhorar seu walkman. Cada empresa tem que ter um propósito, pois o sonho se realiza através dos loucos e por meio de pessoas com ideias, fé e esperança. Nunca pela estratégia ou processos”, complementa.
O mercado de massa não está morto, ele está mais vivo que nunca. O poder passou das marcas para o varejo, ou seja, quem manda agora é o consumidor. Ele é o chefe e tem toda a informação através de tecnologias. Ele escolhe onde e como quer comprar. Comece a medir o retorno sobre o envolvimento do cliente com o produto e não apenas do retorno financeiro. “As empresas que vão ganhar são aquelas que envolvem e que estão próximas dos seus clientes. A maioria de nós passa a maior parte do nosso tempo no escritório respondendo a emails. Isso tudo é bobagem. Os vencedores são aqueles que passarão o tempo observando seu cliente, explorando suas vidas e desenvolvendo soluções para sua vida. O que importa é como o cliente se sente a respeito do mundo, do seu futuro, da família e da sua segurança. Se você entender isso vai saber como ele se sente em relação ao produto”, explica.
Faça as coisas acontecerem.
Mude as coisas, mas mude agora com paixão e harmonia. “Nós perdemos muito tempo fazendo coisas bobas, ao invés de assumir riscos. Você fica limitado pelas coisas do passado. Mude as percepções. Para vencer você tem que criar um novo caminho. Tem que ter excelência, pois ser excelente é melhor do que ser muito bom. A maioria das empresas são burocráticas e lentas. Se você sente que está dentro de um fluxo é sinal que tudo está correndo bem. A maioria das empresas só entra no fluxo apenas 20% da semana”, afirma Roberts.
Coloque emoção na sua marca.
Em muitos países dizem que é preciso deixar a emoção fora da empresa. “Cerca de 80% das nossas decisões são tomadas com base na emoção. A nossa comunicação está voltada para o lado racional. A diferença entre os dois raciocínios é que o racional leva a conclusões, reuniões, estratégia. Mas o emocional é o lado que realmente leva a ação. E se você está na área de marketing, você é ação. Você tem que fazer com que as pessoas comprem a sua marca. Portanto, seja feliz e não fique interrogando os dados. Pense com o coração. Tome as pequenas decisões com a cabeça e as grandes com a emoção, pois seus concorrentes estão pensando com a cabeça”, diz Roberts.
E como ser uma lovemark?
Kevin Roberts falou também sobre as lovemarks, tema de seu livro lançado em 2004. Ele explica que a diferença das marcas e das lovemarks está no fato da lovemark não ser da empresa e sim do cliente. “A coca-cola pertence aqueles que tomam o refrigerante. Para ser uma lovemark temos que abrir mão do controle e envolver os consumidores com os produtos. As marcas se constroem em cima de valores e autenticidade. Sem isso você não tem chance. Mas isso não basta, porque seu concorrente também possui essas características. As lovemarks são baseadas em amor e lealdade além da razão. Isso é o céu”, comenta Roberts.
Roberts apresentou um gráfico de lovemarks baseado em dois eixos: amor e respeito. Ele explica que cada relação com uma marca precisa deste eixo, ou este relacionamento passa a ser apenas uma transação. “Olhe para o eixo e veja onde você está e onde está o seu concorrente. Muitos negócios acabam nas questões das comodities, as companhias aéreas, por exemplo, estão neste quadrante, pois oferecem o mesmo serviço sempre do mesmo jeito. Este é um quadrante que ninguém deve estar. O melhor quadrante para uma marca estar é aquele que equilibra justamente o amor e o respeito – o quadrante das lovemarks”, pontua.
Roberts chamou a atenção também para cinco aspectos que levam uma marca a se tornar uma paixão: ideia, imaginação, intuição, inspiração e insight. Ele toca no ponto que a revelação é neste caso a grande estratégia. “As empresas precisam construir uma forma de envolver o consumidor. O preço é paridade, é o que as pessoas pagam. Valor é o que elas experimentam. Então pergunte a si mesmo: Qual é o valor que não tem preço que minha marca entrega? ”, finaliza.

Fonte: HSM Online

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